Maria Melilo associa câncer a anabolizantes; entenda essa relação
Segundo especialistas, o fígado sofre uma sobrecarga metabólica porque precisa trabalhar excessivamente para metabolizar o hormônio extra
Ter o corpo perfeito em curto espaço de tempo é uma proposta tentadora para muita gente, especialmente no Brasil, onde a imagem é tão valorizada. A ex-BBB Maria Melilo, vencedora da 11ª edição do programa, passou por um momento difícil devido a esta busca.
Depois de ser diagnosticada com câncer no fígado, ela passou por uma cirurgia na qual teve que tirar 70% do órgão. Maria acredita que a doença foi intensificada pelo uso contínuo de anabolizantes, durante sete anos. “É uma droga, vicia... Cada vez você quer chegar mais à perfeição”, disse no último domingo (10) em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.
Maria contou ainda que começou a usar anabolizantes aos 21 anos, e só parou quando descobriu a doença, em 2011, ano que saiu vencedora do reality show. O caso acaba trazendo novamente à tona a polêmica em torno do uso indiscriminado dos anabolizantes.
De acordo com Alessandro Landskron, cirurgião oncologista do núcleo de abdômen do hospital A.C. Camargo, embora existam associações entre o uso de anabolizantes e o câncer de fígado na literatura médica, as evidências ainda não são suficientemente relevantes. Ele afirma que o câncer no fígado, assim como os outros tipos, ocorre a partir de uma combinação de diversos fatores.
No entanto, ele reforça que se existe uma predisposição, o uso de anabolizantes pode sim acelerar o processo ou agravar o quadro. “A pessoa pode ter uma predisposição, mas, se leva uma vida saudável, pode diminuir as chances de desenvolver o tumor”, afirma, acrescentando que os principais fatores de risco no caso do câncer do fígado ainda são a cirrose e as hepatites B e C.
Ele também explica que a cirurgia é o procedimento mais indicado nos casos de tumor localizado. De acordo com o especialista, as chances de cura são grandes, uma vez que o fígado é um órgão que tem alta capacidade de regeneração. Entretanto, ele explica que sempre há a chance de o tumor voltar. “Vai depender de muitas variáveis como o tamanho do tumor, o número de tumores ou fatores associados”.
Sem prescrição
Ainda na entrevista, a ex-BBB contou que apostou na alternativa porque “era magrinha”. “Eu tomei porque eu pensava na saúde por fora, na estética, não pensava por dentro. Pra largar, eu tive que passar por essa doença”, completou.
Ricardo Munir Nahas, especialista em medicina do esporte e Diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), diz que é comum as pessoas procurarem o aval de um médico para começar a tomar hormônios. Mas ele avisa que a prescrição só acontece em casos específicos. “Se você não vai usar para corrigir um problema médico, ele sempre vai ser excessivo”, explica.
Ricardo reforça que, sob recomendação médica, este tipo de recurso é indicado apenas quando se identifica a falta de algum hormônio e que, mesmo nestes casos, eles são injetados uma vez a cada 30 dias. “Imagine o estrago no caso de quem faz isso com frequência”.
Ele também descarta a possibilidade de um meio termo neste campo. “Não existe essa coisa de usar uma quantidade controlada. Não há indicação médica com fins de crescimento muscular”, reforça.
Riscos
Uma das possíveis correlações entre o câncer de fígado e o uso de anabolizantes, de acordo com ambos os profissionais, é a sobrecarga deste órgão. “O fígado tem que trabalhar excessivamente para metabolizar aquele hormônio extra, e acaba sofrendo uma sobrecarga metabólica”, diz Ricardo.
Além disso, Alessandro ressalta que o câncer de testículos também é comumente associado à prática. Ele explica que isso acontece porque este é um tipo de tumor embrionário, que cresce muito rápido.
Como o anabolizante acelera o crescimento de algumas células, e isso acontece de forma desordenada, elas acabam desenvolvendo funções que não deveriam. Um quadro de metástase, por exemplo, pode ser acelerado neste caso.
Outros riscos associados incluem aumento do colesterol, alterações cardíacas e a perda de caracteres sexuais secundários. “Existem casos em que há a alteração da libido e também danos à fertilidade, quando o homem deixa de produzir espermatozoide e a mulher deixa de ovular”, afirma Ricardo.
Dependência
Segundo os especialistas, o anabolizante confunde o organismo e acaba causando dependência. Alessandro explica que a substância ocupa os receptores hormonais e não permite que os hormônios que o corpo produz naturalmente se mantenham ativos. “Eles ficam parados na corrente sanguínea sem poder exercer sua função."
Como consequência disso, o anabolizante substitui alguns hormônios, e o organismo entende que pode parar de produzi-los.
Ricardo alerta que a dependência passa a ser também psicológica, e a pessoa pode desenvolver transtornos ou se mostrar muito agressiva. “Quando ela usa anabolizante, sente maior disposição, fica mais esperta, produz mais. Isso até certo ponto, porque depois vêm os malefícios. Quando ela para, se sente mole, cansada, e aí vem a dependência”, explica, acrescentado que nos Estados Unidos as punições legais para quem atua no mercado paralelo dos anabolizantes são similares às de quem vende drogas. “É como se fosse tráfico de entorpecente, porque eles também causam dependência”.
Os profissionais explicam que, diante destes quadros mais graves, suspender o uso repentinamente não é algo simples. O processo deve ser acompanhado por endocrinologista. “Quem usa por muito tempo não pode parar de uma vez só, senão não dá tempo de o organismo se adaptar e voltar a assumir aquele mecanismo”, diz Alessandro. Alternativas
Aos ávidos por músculos, vale lembrar que o fator genético tem grande impacto no processo de busca por mais massa. Ricardo explica que a ingestão de aminoácidos e suplementos alimentares podem ser alternativas. “Mas mesmo isso deve ser acompanhado por nutricionista, porque eles também podem sobrecarregar órgãos como o fígado e o rim”.
Foto: Divulgação
Fonte:Terra
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