Ativista afegã diz que Brasil deve se livrar do "imperialismo americano"
Eleita pela Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2010, Malalai Joya já sofreu sete tentativas de assassinato em seu país
A ativista feminista afegã Malalai Joya, 35 anos, integrante da Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão, afirmou, nesta segunda-feira, que o exército dos Estados Unidos não pode mais estar presente em seu país e alertou o Brasil para a presença americana em diversos países do mundo. Para ela, a paz nunca pode vir através de “inimigos jurados da paz”.
É maravilhoso quando vemos o Uruguai, Cuba e Bolívia obtendo sua independência ao imperialismo americano e seu povo deve lutar contra as políticas erradas de seu governo. O Brasil também deve fazer isso
Malalai Joya
Malalai foi eleita deputada da Wolesi Jirga da Província Farah e suspensa, em 2007, por sua crítica ao Talibã. Em conjunto com o escritor canadense Derrick O’Keefe, publicou sua autobiografia "Raising My Voice" e foi eleita pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.
"Esse tipo de paz é muito mais perigosa do que a guerra atual. Nosso povo precisa de justiça pelos suicidas que matam nossos parentes. As pessoas do mundo precisam saber que os Estados Unidos e a Otan só estão defendendo seus interesses. E tentam criar hoje nove bases militares no meu país para mudar a base de comando na Ásia", afirmou Joya.
Povos livres do imperialismo
A ativista alertou todos os países que mantêm parceria com os Estados Unidos e elogiou as nações que, segundo ela, "se livraram do imperialismo americano", como Uruguai, Bolívia e Cuba. Malalai citou ainda a crise no Egito decorrente de um golpe militar ao presidente Mohamed Mursi.
A ativista alertou todos os países que mantêm parceria com os Estados Unidos e elogiou as nações que, segundo ela, "se livraram do imperialismo americano", como Uruguai, Bolívia e Cuba. Malalai citou ainda a crise no Egito decorrente de um golpe militar ao presidente Mohamed Mursi.
"Acho que a mesma coisa vai acontecer em outros países. É muito perigoso desviar a raiva do povo na direção errada. O Egito é um bom exemplo disso. Felizmente todos os dias nós testemunhamos o glorioso povo contra seus governos. É maravilhoso quando vemos o Uruguai, Cuba e Bolívia obtendo sua independência do imperialismo americano, e seu povo deve lutar contra as políticas erradas de seu governo. O Brasil também deve fazer isso", afirmou.
A ativista afegã disse também que falar em direitos humanos em seu país é uma “piada”. Para ela, enquanto os Estados Unidos não deixarem o território, a independência da nação não acontecerá.
“Enquanto houver presença militar americana não teremos independência. E falar em direitos humanos e justiça social é uma piada. A única solução é que os exércitos se retirem, porque sua presença torna nossa luta muito mais difícil, dando poder a forças brutais, criando obstáculos para nossa democracia. Os povos têm que lutar pela sua liberação. Nosso povo pode lutar contra o talibã medieval", disse Malalai."Mudanças cosméticas"
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Em sua opinião, as afegãs e afegãos concordam com a presença americana no país e que o aparecimento de mulheres em cargos políticos são apenas "mudanças cosméticas".
“Sessenta e oito mulheres já foram eleitas, mas a maior parte delas são a favor da guerra. Sou membro eleito do parlamento, mas depois de expor a natureza fui ameaçada de ser morta dentro do próprio parlamento. Já sobrevivi a sete tentativas de assassinato e sou obrigada a trabalhar na clandestinidade. Vocês não conseguem chegar nos meios de comunicação porque matam jornalistas que mostram o que está acontecendo”, disse.
Malalai foi a primeira a falar na conferência “Acumulação por despossessão: trabalho, natureza, corpos das mulheres e desmilitarização”. Sob a coordenação da turca YildizTemurturkan, a afegã encerrou sua palestra no evento feminista com o Auditório Simon Bolívar do Memorial da América Latina lotado e mandou uma mensagem ao povo de seu país
"Venho de uma terra de tragédia, onde o povo afegão, especialmente as mulheres, foram as primeiras vítimas. Venho de uma terra onde ainda existe uma guerra e onde os EUA ocuparam o Afeganistão em nome da paz, mas traíram o povo afegão substituindo o regime bárbaro por fundamentalistas brutais que são a mesma coisa".
A brasileira Helena Hirata, a australiana Ariel Saleh e a filipina Jean Enriquez também palestraram na conferência na capital paulista.
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
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