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Bipolaridade: entenda possível causa da separação de Catherine Zeta Jones

De acordo com amigos do casal, o transtorno da atriz e o câncer de garganta de Michael Douglas teriam desgastado a relação

Casal se separou depois de um relacionamento de 13 anos
Foto: Getty Images
Após 13 anos juntos, Michael Douglas e Catherine Zeta Jones anunciaram o fim do casamento. Durante esse tempo, a relação passou por alguns problemas, como o câncer de garganta do ator e o transtorno bipolar da atriz, que, segundo amigos do casal, foram o estopim para a separação. ''É muito estressante. Ele a ama, mas ela tem suas próprias questões.'', contou uma fonte próxima a Michael ao Daily Mirror.
O drama de Catherine, de 43 anos, é o mesmo de milhares de outras pessoas em todo o mundo que, invariavelmente, desconhecem a causa da esmagadora oscilação de humor que caracteriza a doença. "Se minha revelação sobre meu transtorno bipolar encorajar uma pessoa a procurar ajuda, então isso já valeu a pena", explicou a estrela, e completou: "Não há necessidade de se sofrer silenciosamente e não é uma vergonha procurar ajuda."
Um mapeamento mundial sobre o transtorno, publicado em março de 2011 na revista Archives of General Psychiatry, mostrou que mais da metade dos doentes - 57% - não recebe tratamento. As informações são do site da Associação Brasileira de Psiquiatria e o estudo aponta que 2,4% das pessoas sofre com este problema em todo o mundo.
A pesquisa mostrou ainda que, entre os brasileiros bipolares, apenas 42,7% procuraram a ajuda de um especialista para entender e tratar o distúrbio. A análise foi feita com mais de 60 mil pessoas em 11 países, incluindo Brasil, EUA e China.
A publicação indica que o transtorno bipolar pode ser mais incapacitante do que o mal de Alzheimer e até mesmo de alguns tipos de câncer, uma vez que, em comparação aos outros doentes, os bipolares podem sofrer anos com os prejuízos da doença sem ao menos conhecê-la.
Simples mau humor x doença: como diferenciar?
Entre os sintomas mais evidentes do transtorno bipolar estão oscilações de humor, depressão, agressividade, irritabilidade ou o contrário - euforia, empolgação e impulsividade excessivas. Mas se este tipo de sentimento acontece com todo mundo, como diferenciar os sintomas entre acontecimentos corriqueiros de uma doença mais grave?
De acordo com a especialista Doris Hupfeld Moreno, psiquiatra assistente e pesquisadora do Programa Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Ipq-HCFMUSP), "quem não tem sintomas grave, sente que a vida flui". Em outras palavras isso significa que, para uma pessoa normal, nenhum destes sintomas é tão acentuado a ponto de trazer prejuízos graves à vida pessoal ou profissional.
Ela enfatiza que a variação de humor muito frequente deve ser vista com atenção: "Oscilação de humor não é algo normal. É preciso buscar a causa, seja ela uma tensão pré-menstrual, uma depressão ou algo mais grave", explica.
A psicóloga e terapeuta de casal e família Miriam Barros explica que o bipolar costuma exibir comportamentos que destoam da sua personalidade. "É aquela pessoa mais retraída que, do dia pra noite, passa a ser altamente sociável; que começa a ter impulsos de consumo e se endividar; alguém mais apático que passa a demonstrar euforia inexplicável ou energia exagerada, acompanhada de ideias grandiosas."
Ela acrescenta que as pessoas que convivem com um bipolar podem identificar os sintomas mais facilmente do que o próprio: "É aquele indivíduo que você nunca sabe como vai encontrar, não sabe se ela vai sorrir pra você, dar uma 'patada', ou se vai estar profundamente desanimado."
Segundo Mirian, a doença é predominantemente genética e normalmente aparece na fase da adolescência, desencadeada por episódios traumáticos ou estressantes como perdas, separações ou decepções.
A doutora indica atenção redobrada às pessoas que têm na família casos de distúrbios mentais. Ela enfatiza que a ajuda dos parentes e amigos é muito importante para auxiliar o bipolar na detecção da doença e encorajá-lo a buscar ajuda.
Negar a doença só complica o quadro
As especialistas são unânimes em afirmar que o diagnóstico do transtorno bipolar é algo complexo e, muitas vezes, é prejudicado pelo próprio paciente, que se nega a acreditar que tem algum tipo de problema. De acordo com Doris, o que complica mais ainda são os picos de euforia: "Geralmente, as pessoas só procuram um médico quando sentem sintomas de depressão. Já quando têm crises de euforia, acham que é algo normal e que são capazes de tudo."
Segundo a psiquiatra, nestas condições a pessoa fica com a mente acelerada e fisicamente mais energizada, pensa demais, tem muitas ideias, não consegue relaxar e gasta o máximo de energia que pode. Além disso, nota-se uma maior impulsividade, que pode se refletir no abuso de álcool e drogas e no aumento da libido.
Para ela, este é outro fator complicador, pois algumas pessoas chegam a acreditar que são dependentes químicas ou viciadas em sexo, quando a raiz do problema é outra. "Hoje sabemos que isso traz um impacto negativo sobre o cérebro e, quanto antes a pessoa se tratar, mais ela o protegerá de um possível envelhecimento precoce", explica.
Doris afirma que a ausência de tratamento pode prejudicar os relacionamentos e também a vida profissional: "Mesmo uma pessoa com transtorno bipolar leve tem irritabilidade e acaba causando intrigas. Isso pode minar a capacidade de ser um bom pai ou um bom parceiro, e também irá trazer problemas no trabalho, pois, por mais que essa pessoa se especialize e encha o currículo, sem medicação ela terá dificuldade de usar 100% do seu potencial."
Tratamento adequado, vida normal
A psicóloga Miriam enfatiza que, por ser uma doença que desencadeia reações químicas, não há como restringir o tratamento somente à psicoterapia. "O psiquiatra irá receitar a medicação ideal para o paciente. Geralmente, são utilizados estabilizadores de humor, combinados às sessões de terapia."
Por ser uma doença crônica, o acompanhamento deve ser constante, e a doutora explica que o paciente também deve prestar atenção aos hábitos do dia a dia e viver em busca de uma vida menos estressante, tentando driblar as tensões: "Atividades como ioga e meditação são boas alternativas para ajudar a pessoa a encontrar seu equilíbrio e evitar o estresse, que é o que desencadeia as crises. Também é preciso dormir a quantidade de horas certa e se alimentar bem. Enfim, fazer coisas pensando em não exigir muito do corpo", observa.
As especialistas ressaltam a importância da ajuda de um profissional, que vai diagnosticar o paciente da maneira adequada e dará andamento ao tratamento, permitindo que o bipolar leve uma vida normal. "Os sintomas são muito diversos, mas um especialista consegue distinguir isso e ensinar os pacientes a lidar com os sintomas. Quando isso acontece, é muito bonito, porque a pessoa aprende a diferenciar os sentimentos", finaliza a doutora.
saude.terra

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